terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Não troco. Não troco. Não troco!

Oh, sinto, amigo, mas temo informar-lhe que estamos para encerrar nosso dia. Apenas longamo-nos a cerrar as portas por hoje para esperar por Fermín que foi fechar a compra de uma coleção particular de um falecido livreiro e temos de incluí-la em nossos livros.


Mas se dedos de prosa é o que procura, encerro o expediente da retórica circular que habita em nossa livraria com a simples e livre de retórica, a frase: "Quero nunca trocar meu coração por pontiagudas pedras!"

Embora livre de retórica e reflexionarismo barato de filósofo livreiro que nem digno de mesa de bar sou, acredito que esta frase, por si só é a minha retórica.

Ah, aí vem Fermín!
E muito boa noite, ahn?!
Pense mais sobre essa frase!
Buenas Noches!
Y FELIZ NAVIDAD!!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Sem mais degraus?[...]

Oh, Buenos Días! Que olhos vívidos e despertos! Não tenho a capacidade de despertar a tão breve hora! É para isso que me banho em fontes de café colombiano, forte e quente! Mas uma caneca bem cheia do mesmo café pode resultar en lo mismo efecto.

Por falar em hora, tempo e vivacidade de olhar, estive pensando. Me pus a ler mais daqueles manuscritos que encontrei antes de sua última visita e fiquei intrigado!

São manuscritos de data desconhecida, provavelmente muito velhos. Mas, ainda assim, discorrem sobre assuntos e sentimentos humanos universais e que não expiram. O que quiero decir és que son coisas que aflingem o ser humano, ou pelo menos diz respeito a eles de uma maneira universal e que SEMPRE foram assim!

Por ejemplo,
este:

"A caminhada foi longa, árdua. Com muitas flores, sim. Mas, agora, no cume do monte de todo o seu trabalho, nosso personagem, o italiano Blanco Panucci, não sabe o que fazer no fim da sua escalada. Existe, sim, infinitos degraus a, ainda, serem galgados. Mas, agora, não há degraus se apresentando ao nosso carcamano indeciso. Isso, porque, todo o trabalho que ele poderia realizar, já o foi feito! E, então, resta que a semente que ele plantou e regou floresça mas, até lá, ele tem um caminho perdido em algum lugar, esperando para ser encontrado.
Maravilhado com a vista da privilegiada altura a que chegou, B. Panucci, já contrariado por ter sido 'forçado' por algo que ele não compreende a tomar o caminho fora do planejado mas, grato pela vista, B.P. não parece ser incomodado com esse fato.
E eis que B.P. vislumbra o degrau perdido! Entr a f lhag m ele descobre que o s u cam ho..."

E é até aqui que o manuscrito vai. Ou, pelo menos, essa parte dele, já que a obra se encontra rasgada aqui, além de algumas letras faltando que o tempo raspou do papel, mas são perfeitamente adivinháveis, e eu não fui capaz de encontrar sua metade. Mas essa metade há de aparecer. Assim como Blanco Panucci, devemos dar tempo para que nosso trabalho nos recompense!
Na verdade, só não quero me embrenhar em toda aquela poeira e teias de aranha que deixamos acumular na coleção pessoal de meu avô. Depois tentarei isso com Fermín. Conhece ele, não?

Pois bem, buenos días, novamente! Vay, pero ,vay rapido, ahn? que la lluva ya vien!

domingo, 14 de dezembro de 2008

A intensidade de uma declaração sem nome de um autor qualquer...

Estive ajudando meu pai com alguns livros e acabei por encontrar algumas obras e manuscritos interessantes da coleção pessoal de meu falecido avô. Dentre eles, gostei desse aqui:

"Um coração intenso é um coração que palpita com força porque as suas paredes de musculos já não agüentam tanta emoção em seu interior. É difícil, para um órgão tão atarefado, lidar com tanta coisa passando por ele, machucando-o por dentro ao passar, violenta e impiedosamente, pelos seus átrios e válvulas e ventríolos e miocárdios...

Mas aí, vem aquela única partícula, que começa sozinha e imperceptível. E cresce. Cresce. Cresce até tomar todo o espaço do seu baleado, porém altivo coração, que, tomado por uma energia bonita, sente-se o mais dos mais. Sente-se forte e austero, sente-se herculiano, sente-se herói digno de Homero. Sente força, paixão. Capaz de parar um trem à velocidade e capacidade de toda a fornalha só com um batimento, como se nada daquilo que o machucara fizesse sentido ou, ao menos, existisse. Mas, ao mesmo tempo, sente-se vulnerável. E essa vulnerabilidade só dá trégüa quando ele encontra seu escape, encontra uma maneira de expressar tudo o que sente para quem ele sente. E é escrevendo essa declaração que meus dedos martelam a velha máquina de escrever sem dó nem piedade, porque este é meu escape. Meus dedos pedem por mais palavras, meus braços, elétricos e eletrizados sentem-se impulsionados a expressar mais e mais e mais e mais e mais...

Sinto-me mais forte que qualquer rapaz, qualquer homem, qualquer velho, qualquer touro, cavalo, máquina, vento, chuva...

E sinto-me fraco. Fraco porque não a vejo, agora. Mas é só fechar os olhos enquanto teclo essa velha máquina para que eu possa olhar para o seu perfume, sentir o cheiro do seu beijo e sentir o gosto dos seus olhos. Meu corpo todo se sente inquieto!


E é com o excesso do verbo sentir que expresso meu amor.

Pois eu sinto e sinto tudo!

EU AMO E A AMO TODA!

B.P"

É, de fato, intenso esse autor.Há muitos mistérios sobre o autor desse manuscrito, a começar pelo nome. Dizem que ele sofria de Demarchismo, uma condição que faz um Homem o mais forte e mais vulnerável dos Homens. Ele, com certeza, amava e se sentia o mais rico dos homens. E esse não era um mistério. Isso era a verdade mais real de todo o universo para ele.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Enquanto isso...

Pois, muito boa tarde, amigo!

Como vai?! Sou Fermín. Fermín Romerro de Torres, ao seu dispor!
Daniel e Sempere-pai foram conferir uma coleção de livros a algumas quadras daqui e devem voltar logo.

Procura um livro em particular? Ou apenas uns dedos de filosofia?
Não gosto de dizer que sou bom na arte de versar pensamentos reflexivos, já que todos que o são sabem que não é de valia gabar-se de tal quesito favorecido, não?

Hoje gaba-se muito de feitos e ditos e conquistas, mas, já diz o ditado:
Diga-me do que vanglorias , que digo do que careces.

É culpa desse governo fascista e dessa televisão escravista!
Espere, amigo, e verá que, daqui poucos anos, nem peidaremos por nossa conta. Tudo culpa desse tubo de mentiras e manipulação, tudo através de piadas sem sentido nem graça as quais somos sujeitos!
E perdoe o linguajar. Gente que passou por casos como os meus ganha credencial para linguajar, digamos, profano.

E desculpe-me, às vezes sou rude como um ogro, qual o nome de vossa exemplar presença?

Prazer, Fermín Romerro de Torres. E não deixe enganar-se pela embalagem que o produto é muitíssimo de boa valia e utilidade. Mas tenho um fraco pela carne, não aquela coisa podre que se encontra nos açougues de hoje, mas digo daquela pecaminosa e fastiosa coxa! Coxas grossas e carnudas! Aquelas como a de Bernarda, veja, lá vai ela, meu bombonzinho. É moça intensa! Moça que ansia por alguém que a faça torcer!
Mas sem as indiscrições, já vi você por aí com um bonbonzinho também! Aquela italianinha De Marchi, não? Marina, certo?

- Sim, amigo Fermín. É, sim, meu bombonzinho. Obrigado pela conversa, torno breve para nova prosa.

Até à vista, amigo Perissotti.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Uma prosa de um anônimo qualquer...

Oh, olá! É você!!
Venha, entre na livraria! Todos amigos dos livros são meus amigos!
Como vai? Noite fria, não?! Barcelona, vai do suor à neve em questão de poucos meses!! Estou quase fechando, mas pode entrar. Vamos, sente-se. Fermín, nosso prezado amigo e ajudante acabou de sair. Tem um encontro, acredito.
Sabe? que quando você passou por aqui um pouco mais cedo, lembrei-me mais de David Martín. Lembrei-me de uma prosa que minha mãe contou-me dele. Ela era secretária dele na adolescência. "Homem de bom coração", dizia ela, "mas grosso como um inglês e teimoso como uma criança", completava! Se a memória da minha mãe vale-me algo, creio que a prosa começava com...


Medo!
O medo de passar por tudo de novo! O medo de ter que passar por aquilo que não acreditou precisar desde o ínicio! O medo de que todo meu esforço foi em vão. O medo de que tudo o que eu acreditei durante o caminho foi mentira. Medo da consequência, do resultado, do reflexo do meu trabalho.
O medo é até bom! Medo é 'stigma' daqueles amaldiçoados com o bom-senso!
Mas e se medo por previsão?!
É o medo do sonho inalcançado, de novo!
Mas meu maior medo é saber que tudo aquilo no que acredito não se mostra real! E se tudo aquilo que meu coração me diz ser a mais sincera e tátil verdade não for verdade?! E se o caminho e seus espinhos me levaram à loucura? Só queria continuar acreditanto no meu peito e na chuva. Pois, loucura ou não, eu acredito naquilo que meu peito e a chuva me dizem!

Essa prosa foi contada por David Martín a Isabela Gispert, sua assistente e, posteriormente, Isabela G. Sempere, minha mãe. Essa prosa, originalmente, foi escrita por um tal italiano de nome Bruno Perissotti, ou algo assim...

Daniel Sempere

Este é meu negócio, minha livraria, minha casa!

A Livraria Sempere tem a alma de meu avô alojada dentre os inúmeros volumes de almas de outros autores, pois, assim acreditava ele: um livro abriga um pedacinho da alma de seu autor e quem o lê deixa com ele um pedacinho de sua própria alma e, dessa maneira, a alma do livro vai se transformando e transformando que o lê, que pega um pedacinho da alma da obra para repôr o seu pedaço dispensado.

Saint-Exúperry dizia algo assim também, creio. Um escritor aqui de Barcelona, David Martín, amigo de meus pais dizia isso também: diz-se que um escritor denota-se bom escritor quando percebe-se seu estado mal-trapilho, não nas vestes mas, sim, no espírito, nos olhos. Ele escreve tanto que sua alma apresenta buracos sem tampo, tantos pedaços de almas no dispêndio a cada livro perfeito. E para a cura desse mal, inventaram os charutos coloniais, o café colobiano e o conhaque espanhol... Meu pai diz que minha mãe dizia que David era um idiota! Mas há racionalidade nas palavras desse dom Martín!!